Tiborna doce

Tiborna doce - A família AntunesEsta é uma das minhas memórias de infância na aldeia. Quando era o tempo dos lagares trabalharem (nos anos 50 e 60 havia dois lagares, agora não há nenhum), chegava da escola, pousava a sacola e pedia à minha mãe para me cortar uma boa fatia de pão. Pão grande, feito em forno de lenha. A fatia era de dois dedos de grossura. Depois, para maior desembaraço, colocava-a debaixo da camisola e lá partia eu numa correria até ao lagar, ao velho, que o novo tinha um mestre lagareiro que não era para favores. E o favor era o de nos fazer a tiborna. Depois de bem torrado ao lume, o mestre do lagar mergulhava-a por inteiro na grande cuba que recolhia o azeite das prensas. O sabor a azeite acabado de fazer, uma delícia, a escorrer pelas mãos e os beiços untados. Memórias oderosas.
Nunca deixei de consumir o azeite que, nos finais dos anos sessenta, teve uma campanha negativa promovida pelos óleos vegetais, então a entrar no nosso mercado e que conduziu a uma acentuada quebra de consumo e preços e ao abandono de grande parte dos nossos olivais.
 A minha família ainda produz por volta de 200 litros de um azeite excelente que continuo a consumir em crú, em forma de tiborna. A mistura do azeite com o mel é um manjar dos deuses.
Experimentem deitar uma colher de mel num pratinho, cobrir com azeite e ir molhando a sopa (pedaço) do pão torrado. A acompanhar, uma chicara de café de mistura (que compro na Carioca, casa de cafés centenária perto do Largo de Camões- excelente de sabor e aroma, a mistura da casa).
Este é prato para comer no Inverno, e tem ainda um extra: na nossa casa, o pratinho com o azeite e mel fica no centro da mesa para ser partilhado pela família inteira...